
Apaixonado pela História desde os tempos em que lia matérias da editoria de internacional do jornal 'Estado de São Paulo' para o avô, que perdera a visão, o historiador e cientista político Bóris Fausto dedicou boa parte de sua vida profissional à advocacia, até tornar-se professor dos Departamentos de Ciência Política e de História da USP 'com a incumbência de entender de toda a História, o que era uma missão impossível, mas que tentei cumprir bem ou mal'. Autor de dezenas de livros premiados de História do Brasil, Bóris Fausto, aos 85 anos, dedica-se hoje à produção de artigos de micro-história, como sobre crime e criminalidade, futebol e política, que pretende reunir brevemente em um novo livro. Aqui, o depoimento do professor para a série Porque História do portal do fHist.
"Porque estudar e ensinar História? Pergunta difícil de ser respondida em poucas palavras. Mas resumindo, eu acho que o ensino obrigatório de História é de uma importância muito grande para a formação do cidadão. O cidadão que só conhece o presente e a sua vida vivida, que não conhece da onde socialmente e coletivamente ele veio, não é um cidadão por inteiro. É um cidadão pela metade.
A História é aberta e nos ensina a viver. Mas são um tanto exageradas as afirmações de que conhecendo o passado, entendemos o presente e projetamos o futuro, porque não se reproduz a História no presente, não se reproduz a História para o futuro. Na verdade, a História serve como um índice importante de como certos caminhos foram trilhados, de como certos caminhos devem ser percorridos com maior cuidado ou mesmo até evitados.
A História serve, sobretudo, para que a gente entenda que o Brasil não começou em um determinado momento, a critério dos governantes. Para não partidarizar, eu diria que o Brasil não começou com a proclamação da República pelo Marechal Deodoro, não começou em 1930 com Getúlio Vargas e nem começou com a eleição do Lula no tempo mais presente."